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domingo, 29 de maio de 2011

memórias


Pedagogia de consultório

 Morávamos no interior do interior de Santa Catarina e meu querido papai ,após planejar a viagem de trem até a cidade, me levaria ao médico para uma consulta.
Meu pai, ferroviário dedicado, só faltava ao trabalho em caso extremo.  E, eu, já me tornara um destes casos...  Ah!..Viajar de trem era um sonho real. Eu amava viajar de trem!!! Acho que ainda amo!

...Na casa dos 8/9 anos, sentia fortes dores na barriga. (abdômen é coisa de adulto)
Isto é manha! Diziam alguns, o farmacêutico, receitava laxantes e vermífugos , enquanto  mamãe fazia chazinhos, papinhas e paninhos quentes pra aliviar a dor, ou, caso fosse mesmo, “luxo de criança”, isto bastaria pra me ver bem de novo!

Ocorre que, não era nem  lombrigas e muito menos, dengo. E sim, uma apendicite bem avançadinha!
 
Chegamos afinal no consultório do doutor. Seu nome? Não me lembro! Mas não pensem que é falha de memória não! Apenas um “ bloqueio memorial” como diria a Emilia de LOBATO. Pois até hoje, recordo a cena... pós-consulta!

Naquele dia, o  doutor fez algumas perguntas ao  papai, depois ouviu meus pulmões, examinou meus olhos e mandou que eu abrisse bem a boca  como fazem os médicos ainda hoje. [Para poetas- românticos – os olhos são espelhos da alma, já para os médicos-cientistas, os olhos,  devem ser o espelho das vísceras...].

Perguntou-me aonde é que doía enquanto pressionava  onde eu apontava a dor. E, afastando-se um pouco, olhando serio para meu pai, disse: É, não tem jeito! Vai ter que ir pra FACA!  E tem que ser  logo! 

Àquelas  palavras, saltei da mesa de consulta e me agarrei no paletó de meu pai, tentando me esconder daquele médico que até então parecia bom e amigo, que ia me curar; mas , ao contrário, de repente se tornara  um velho feio e  malvado! 

Meu pai conversou mais alguns minutos com o doutor e saímos pra rua. Ufa! Que alívio!!!

Como já disse, morávamos no interior e sempre que íamos à cidade, havia muitas coisas a fazer lá, eram documentos, compras, encomendas da família e até de visinhos... E meu pai, descendente de italianos... Um cara  bonna djente! Veramente simpático!  Gostava de parar pelo caminho e  conversar com as pessoas. Mas, nesse dia eu não o deixei em paz. Puxava-o  pelo casaco e pela mão; queria ir logo embora, com medo daquele  doutor que poderia surgir no meio daquela multidão com uma faca  enorme.  O medo era tanto que eu já não sabia se meu pai poderia me proteger "daquele mosntro"...

Hoje,  me divirto com essa história, mas lá atrás, na minha infância, não teve a menor graça, não!  Graças a Deus, a medicina avançou bastante...!!!  Já  a pedagogia ... continuo otimista... 

superabraço,
M alida

 


terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Poesias e Afins

Um pouco de cultura e poesia nesta correria que no final das contas... Nada, absolutamente nada se leva; a não ser a tua Paz...ou... Nem isso...porque só a leva quem a tem!!!



Sou Fã do poeta escritor curitibano Paulo Leminski. Assim, resolvi postar um texto contendo um pedacinho da sua genialidade. Cada vez que tenho oportunidade de reler, me surpreendo. Sabe, dá aquele gostinho de coisa sempre nova e de um humor incrível!!!


O assassino era o escriba


Meu professor de análise sintática era o tipo do sujeito inexistente.

Um pleonasmo, o principal predicado de sua vida,

regular como um paradigma da 1ª conjunção.

Entre uma oração subordinada e um adjunto adverbial,

ele não tinha dúvidas: sempre achava um jeito

assindético de nos torturar com um aposto.

Casou com uma regência.

 
Foi infeliz.

 
Era possessivo como um pronome.

E ela era bitransitiva.

Tentou ir para os EUA.

Não deu.

Acharam um artigo indefinido na sua bagagem.

A interjeição do bigode declinava partículas expletivas,

conectivos e agentes da passiva o tempo todo. 

Um dia, matei-o com um objeto direto na cabeça.
 


(Poema extraído do livro Caprichos e relaxos de Paulo Leminsky.
São Paulo: Brasiliense, 1983, p. 144).