Curiosa manhã
O sol acordou sorrindo e apontou logo cedo, seus raios sobre mim...
Balbuciei um sorriso sonolento e retribuí seu gracejo com
uma piscadela desajeitada
Afinal hoje é domingo e dou-me a folga de espreguiçar sem
pudor.
Sentada na cadeira de balanço, encolhida, porém atenta,
Pandora olhava,
Olhava o jardim como se quisesse abraça-lo com aqueles olhos
gulosos
Segui seu olhar e passei a contemplar aquela riqueza de
cores e silêncios.
De repente, um farfalhar de folhas...
Pandora mexeu-se, movendo as orelhas pontiagudas
Um breve e contido ronronar projetou-se lhe as narinas.
Como quem quisesse apanhar algo, mas sem a menor pressa
Pandora levantou-se dali num salto lento, esguio e reluzente
Parecendo uma guardiã à postos, andava ao redor do alambrado
de ramos verdes.
Inesperadamente, um bater de asas sobrevoou nossas cabeças
Movendo nosso olhar para o alto, seguindo aquele traçado
mágico
Em festivas manobras, atravessou o lago e pousou numa árvore.
...
Desoladas, permanecemos paradas e como que combinássemos
Suspiramos enfadadas junto ao ar abafado daquela curiosa
manhã.
Em meu pensar principiavam inquietações acerca da natureza
das coisas
Pandora porém, não se alterava, parecia compreender
perfeitamente o mundo
Laçou-me um olhar meigo, esticou-se, roçando sua cauda em
meu vestido.
Ambas entramos pela ampla varanda contornando até a cozinha,
O cheiro do café e do pão tostado era insistentemente convidativo
Contrapondo ao aroma cítrico e fresco dos quintais úmidos e
férteis.
A brisa leve e sedutora, enunciava a magia das essências
tropicais dispersas ao redor
O Sol agora imponente, adentrava as portas e janelas,
iluminando o espaço e a mesa posta
Aquecendo as vidraças, as soleiras e as horas deste plácido dia.
Maria Alida,
Julho/2015